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Violência A culpa é de quem?

Violência A culpa é de quem?

28/06/2013

Durante as últimas duas semanas o Brasil viveu momentos históricos de protestos, mudanças, esperanças, guerras e violência. Desde 1994 não se viam jovens indo às ruas pedindo por um país mais justo, uma vida mais justa, o que, na verdade, nem deveria se fazer necessário. Mas é, e muito. Deveríamos cobrar isso sempre, não só quando a passagem de ônibus aumenta 0,20 centavos.

Mas como o lema que viralizou, não são só por 0,20 centavos. O que começou como uma luz no fim do túnel, se encaminhou para uma luz vermelha piscando no meio da sala. E essa luz pisca há anos e há anos tentamos não vê-la. O que mais se comentou dos protestos foram as cenas de violência, amplamente divulgadas pela mídia nacional e internacional. A reação dos policiais foi capa do The New York Times.

Enquanto acompanhava ao vivo pela TV a atitude dos policiais e a ação dos vândalos infiltrados em todas as manifestações pelo país, me questionei sobre o desejo de destruir, de quebrar, de pixar, de botar fogo, de machucar os outros, ou de simplesmente causar a desordem. Essa pulga continua atrás da minha orelha. Por que diabos eles querem tanto invadir o Congresso? Eles sabem de fato o que é o Palácio do Itamaraty? Pixar, invadir e vandalizar prefeituras, pra que?

Ainda não encontrei essa resposta, e acredito que talvez nunca vá entender o que se passa na cabeça deles, pois sou totalmente contra a violência. Me sinto chocada em saber que as pessoas realmente possam querer machucar alguém. A troco de quê? Mas, para tentar entender um pouco isso, comecei a pensar na sociedade violenta em que vivemos. E todo o meu brainstorm é apenas baseado em análises empíricas, não há nenhum dado, nenhuma pesquisa.

Claro que os fins não justificam os meios, mas podem ampliar os horizontes para as causas. Analise e faça as contas de quantos filmes você assistiu na última semana. Quantos deles traziam aquele aviso inicial de “contém cenas de violência”. Quantos deles tinham cenas de tiroteio, sangue, morte? Até as comédias entram nessa conta. Nem os filmes românticos escapam de uma boa cena de perseguição, prisão e triunfo do mocinho em cima dos bad boys.

Mas claro que a culpa não é só do cinema. Tem também os videogames. Eu quando era criança já brincava de matar o pato, com uma arma que era muito parecida com a real, no jogo Duck Hunt do meu super moderno Dynavision 3. Todos os meninos do mundo já devem ter jogado o tal do GTA e se imaginado matando assassinos e bandidos ou até mocinhos e mocinhas, por que não?

Videogames e filmes não são suficientes para criar uma sociedade violenta? Não né! Talvez sejam os desenhos animados, até eles, mostram bichinhos fofinhos se envolvendo em confusões que, às vezes, acabam de forma sangrenta, mesmo que seja só brincadeirinha. Exemplos disso podem ser diariamente vistos em séries como Os Simpsons e South Park. Mesmo que sutil, a violência está ali.

Mas aí, se você ainda está lendo este texto, já deve estar se contorcendo na cadeira e pensando ‘isso não tem nada a ver, eu vejo Simpsons e não sou uma pessoa violenta, nunca matei ninguém’. Ufa! Aí você vai falar que a violência está diretamente ligada à educação, ao que aprendemos e vemos dentro de casa. Também. A violência pode vir de berço, nascer com a pessoa, crescer com a pessoa. E é dentro de casa que acontecem as maiores barbaridades do problemático século XXI. Filhos que matam pais, pais que matam filhos, mulheres que matam maridos, maridos que matam mulheres, e assim por diante. Os motivos são os mais esdrúxulos possíveis, dinheiro, amor, ciúmes, inveja, pobrezam, riqueza, inveja. Tudo consequência do mundo capitalista e selvagem que tanto amamos e criticamos.

O que antigamente acontecia por debaixo dos panos da sociedade, hoje passa no jornal em horário nobre. Mais da metade das pautas dos programas jornalísticos da televisão, por exemplo, são sobre violência, roubo, assalto, mortes, etc. Um dos programas de maior audiência hoje é do Datena, que mostra perseguições policiais ao vivo, assim como mostram programas da televisão norte-americana. Com os jornais impressos também não é diferente. E essas pautas entram em peso nos veículos de comunicação por uma simples explicação: o povo lê, povo se interesse, é isso que chama a atenção, é isso que vende. Né Fantástico?

Todos nós assistimos a várias notícias diárias e continuamos a ferver a água para tomar chá. Todos nós seguimos nossas vidas como se nada estivesse acontecendo, mesmo sabendo que, enquanto o mundo é cor-de-rosa nas nossas casas, jovens ladrões são assassinados a sangue frio nas favelas do Rio de Janeiro. Bom, se eu for começar a falar sobre isso, não vou parar mais.

A questão é que a violência está tão incrustrada na nossa sociedade de uma forma que a aceitamos e a acolhemos dentro de casa, em simples gestos, em pequenos e secretos pensamentos. As vezes até chegamos a glamourizar a violência, o fascínio que ela causa é inegável. Por isso que a violência é culpa minha, é culpa sua, é culpa do nosso passado, do nosso presente, do nosso futuro, da nossa edução, é culpa da mídia, é culpa do governo, é culpa da polícia, é culpa dos vândalos. Não podemos mais jolgar a culpa para o outro. É hora de arregaçar as mangas e fazer a coisa acontecer.