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Videre: a essência fotográfica de papelão

Videre: a essência fotográfica de papelão

21/05/2013

O princípio físico mais básico da fotografia consiste em expor de forma controlada o reflexo de luz emitido pelos objetos a uma película sensível de haleto de prata, que através de reações químicas à luminosidade acaba por registrar as diferentes intensidades desse reflexo, gerando uma reprodução de determinada cena ou paisagem. E a tecnologia descrita acima é praticamente tudo no que se fia a câmera Videre, feita de papelão e desenvolvida por uma estudante britânica.

Kelly Angood, de Londres, teve a ideia enquanto estudava artes em Brighton, há cerca de três anos. A Videre – do latim, "para ver" – nada mais é do que uma câmara escura para abrigar o filme fotográfico, com um buraco da espessura da ponta de um alfinete que faz as vezes da lente e permite a entrada da luz. Tal abertura é controlada por uma aba também de papelão. Quando aberto em uma determinada duração, o orifício possibilita o registro da imagem.

Reprodução / Kelly Angood

Retratos feitos por Kelly com a câmera artesanal

"Ela volta à base da fotografia e te ensina os fundamentos. É fácil de usar e o resultado é adorável", defendeu a criadora em entrevista ao jornal "Daily Mail". A Videre usa filmes de médio formato, algo muito comum em editoriais de moda, um dos filões em que o haleto de prata ainda impera. Kelly disse que jamais teria dinheiro para comprar uma câmera do tipo, por isso decidiu criar a sua. Aos desavisados, o design retrô pode até confundir com um objeto "de verdade".

Diante da resposta positiva que passou a obter com as fotografias da Videre, Kelly iniciou uma campanha no site de crowdfunding Kickstarter, com o objetivo de levantar recursos para iniciar uma produção em quantidade da máquina artesanal. A campanha chegou a seu prazo final no último sábado, dia 18, e superou em mais que o dobro as expectativas da inglesa. Inicialmente pretendendo juntar R$ 45 mil, Kelly chegou ao total de R$ 108 mil, com doações de 881 pessoas.

Reprodução

Modelos posam diante da rústica Videre

Cada um dos apoiadores receberá até novembro o produto final, que consiste em um kit faça-você-mesmo da câmera. Nada mais é que uma folha de papelão reciclado impressa com os desenhos da carenagem e uma instrução de como montá-la. Kelly explica no site da campanha que pretende usar o dinheiro que sobrar para fazer mais Videres e realizar oficinas de fotografia em Londres.

Em uma era na qual as câmeras profissionais digitais estão cada vez mais potentes, mais inteligentes, e as populares diminuem de tamanho e se abrigam no smartphone sem perder qualidade, o projeto de Kelly Angood resgata a essência da escrita com a luz, leva a pensar os princípios físicos dessa descoberta que hoje é tão comum que quase virou banal. Afinal, esta é a prova definitiva que fotografia não está no equipamento, e sim na luz, na sombra e no olhar.

http://vimeo.com/64515833