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Um escritor e sua caixinha de remédios

Um escritor e sua caixinha de remédios

12/11/2012

Era uma tarde de dezembro de 2007. Fiquei sabendo em cima da hora que ele estaria em Curitiba para um bate-papo e resolvi ir até lá. Antes de sair de casa, o lampejo, como a lâmpada que acende acima da cabeça indicando ideia genial: iria entrevistá-lo. Mas onde publicaria a entrevista? Sabe lá onde, mas iria entrevistá-lo pelo simples fato de trocar algumas ideias com ele e estar de frente com o cara que me fez começar a ler livros de gente grande.

Ansioso, esperei tremendo até que o bate-papo acabasse e que ele terminasse de distribuir autógrafos. De algum modo surpreendente venci uma timidez notória que me era companheira desde sempre e fui falar com ele. Após me apresentar, disparei, sem cerimônias: "Posso entrevistá-lo?" Luis Fernando Verissimo surpreendeu-se com a cara-de-pau do garoto de 16 anos que ainda não conhecia as burocracias jornalísticas (especialmente as relacionadas à solicitação de entrevistas), olhou para os lados e respondeu, um tanto intimidado: "Ahm... pode... Aparece lá no hotel amanhã de manhã."

Na manhã seguinte havia uma prova a ser feita no colégio. Respondi tudo em minutos (a nota deve ter sido horrível), voltei correndo para casa, tirei o uniforme e parti em direção ao hotel. Após o recepcionista ter interfonado, esperei por pelo menos meia hora até que Verissimo aparecesse no saguão, passos lentos e frágeis de um respeitável senhor septuagenário.

Cumprimentei-o, sentei com ele em uma mesinha de madeira, e presenciei surpreso à sua falta de jeito: após pedir um copo de leite a um garçom, o escritor tirou do bolso uma caixinha cheia de comprimidos que teve dificuldades para abrir. Quando conseguiu, fez força demais e acabou deixando todos os remédios se esparramarem pela mesa. Estava ali, na minha frente, meu primeiro ídolo.

A entrevista? Ficou bem mais ou menos (confira aqui: parte 1 e parte 2), mas era isso aí. Como o primeiro passo no mundo do jornalismo, já estava valendo.