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Quem disse que o Kadhafi morreu?

Quem disse que o Kadhafi morreu?

20/11/2011

Um novo mimetismo começou com o fim da era Kadhafi. Atrapalhados pela surpresa do acontecimento, líbios, xiitas, norte-americanos, europeus, asiáticos e jogadores de rúgbi não desgrudaram da TV e do Twitter nesse dia de sol em Curitiba. O anúncio das sedes da Copa do Mundo até tem lá a sua importância, mas da CNN à Al Jazeera só se fala na queda do polêmico ditador que dormiu na mesma cama por 42 anos. As páginas de Internacional amanhã vêm recheadas de análises e a Primavera (já sem flores) Árabe toma novos contornos. Alguns gritam contra o capitalismo, outros falam em Pan-Americano e pouquíssimos ainda se lembram dos casos de corrupção no Brasil. Porém, só aqui, na Banquinho, temos a certeza: Kadhafi não morreu.

Quando liguei a TV para passar o tempo logo fui acometido pela Fernandes de Barros, 55. Ali vive um cidadão anônimo, codinome Kadhafi. Cheguei às 13 e, felicidade, ele estava ali, trajando os mesmos trajes, balançando a cabeça da mesma maneira e tímido que só. Sempre que passo largo um "buenas". Ditador, nunca responde aos rebanhos - a não ser quando sobra um troco. Aquele da Líbia, menos famoso, era dado à festividades que faziam as festas de Berlusconi parecerem jantar de 15 anos. O "bunga bunga" africano era de seguranças sexys e ouro, muito ouro. Aqui, o da rua, mal deve imaginar que seu alter ego se foi. Uma vez confessou ao Vinícius, em conversa a pronto ouvido, que sonha trabalhar na Banquinho, afinal "só ficamos ali, na frente dos computadores". É um entra e sai; ele nunca entra. Mas vigia como águia.

As comemorações na Líbia pela instalação do regime democrático devem perdurar por dias, enquanto isso Mubarak é julgado no Egito e na Síria e na Argélia os movimentos devem ganhar força. A Otan já acendeu o pisca alerta. Obama, que matou o tão feioso quanto Bin Laden, suspirou mais aliviado com uma preocupação a menos. Aqui na frente Kadhafi continua vivíssimo, contando os banquinhos que vão na banca comprar bala. Ele pode pensar que vivemos brincando mesmo, pode até imaginar que sonhamos acordado e viajamos nas palavras, mas não passa pela sua cabeça intervir. Kadhafi vive seu mundo, com o mesmo tênis e sorriso. A Líbia dele é a Fernandes de Barros, sua praça da paz.