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Ostentação: palavra que eu gosto de ouvir

Ostentação: palavra que eu gosto de ouvir

15/03/2013

Grana, carrão, mulheres, corrente de ouro. Em um primeiro momento o "Funk Ostentação", nascido da união do (já tradicional) funk da baixada santista com a cultura efervescente das periferias paulistanas, pode parecer uma versão tupiniquim de 50 Cents e Jay-Zs da vida. A afirmação tem um certo respaldo na realidade, por um lado, mas por outro é tão absurda quanto dizer que a Jovem Guarda é o casamento brasileiro de Elvis com os Beatles (perdoem-me o impropério).

Bora lá: a música. Todas elas são uma grande versão de "tchu tcha tcha tchu tcha", é verdade, mas muitas delas são ótimas versões. E olha que eu sou o tipo de pessoa que tem três tipos de siricutico quando uma música exige movimentos pélvicos (rebolar, no caso), mas o funk, convenhamos, é uma delícia. E tem algo de cativante nas músicas dessa mulecada, talvez seja porque o modo de falar deles seja mais familiar do que o carioca. Não sei, só sei que quando conheci "Como é Bom Ser Vida Loka" do MC Rodolfinho fiquei hipnotizada, assisti o vídeo uma vez atrás da outra, por três dias seguidos.

Não é bonito. É brega. Mas, por algum motivo, é "daora"

Mas são as letras (que carregam consigo todo um estilo de vida) que dão o tom do Ostentação. Os temas são aqueles que expus ali em cima. O único porém é que nas canções "femininas" o sucesso com as "gatas" é substituído pelo bom e velho recado "para as recalcadas". Mas será coincidência que um estilo musical cujo sucesso surgiu na internet (em especial no YouTube) e que possuí temas relacionados ao consumo tenha surgido exatamente no momento em que o Brasil vive o boom da "nova classe média"? Tem muita gente séria e importante por aí que acha que não.

"Quem foi que disse que quem é da classe C, D e E só tem que tomar pinga, não pode tomar whisky? Quem acha isso é a elite" é o argumento do diretor do instituto de pesquisas Data Popular (aquele mesmo que produz o relatório Data Favela) Renato Meirelles, no documentário "Funk Ostentação: o Filme". O pesquisador acha que este é um momento de "celebração" dos moradores da favela pois finalmente têm acesso ao consumo de produtos de ponta. No mesmo vídeo funkeiros dessa nova geração dizem o mesmo, mas em sua própria linguagem: "é um funk do bem", é um som "que dá condição para muitas famílias". Afinal, os heróis traficantes são substituídos por garotos de 18 anos de camaro amarelo e tênis Osklen, e esta é a nova fonte de inspiração dos garotos da favela. Se isso é verdade é um debate. Mas fato é que este é o discurso de muitos funkeiros, muitos deles, aliás, os próprios meninos que foram "salvos" do tráfico pela música.

Nego acha que o funk "original" foi traído. Mas a música não para, ela se reinventa a cada dia

Enquanto isso a Regina Cazé, que não é boba nem nada, flagrou esta rapaziada e os levou no "Esquenta", em 30 de dezembro passado. Engraçado que ela própria, na Rede Globo, comenta que o sucesso do ritmo é enorme apesar de estar totalmente apagado no meio televisivo, com exceção do próprio programa dela. Talvez seja jabá das grandes gravadoras, lobby da música carioca, não sei. Mas parece que esta mudando, no último dia 9 mesmo a (diva) MC Beyoncé estava no TV Xuxa.

Longe de mim fazer uma análise sócio-antropo-lógica-política do "Funk Ostentação". Esse papel é melhor cumprido por mestres como Hermano Viana. Eu, na minha humildade, só quero garantir que da próxima vez que passar um carro ao som de "tira foto no banheiro para botar no Facebook" ninguém ache que está diante do mesmo fenômeno musical que produziu Teló e Rodriguinho. Não, são coisas differentes.

E para acabar em ritmo de ostentação, a música que dá título a esse post, da MC Pocahontas:

Quem está por fora ficou afim de se aventurar pelo Ostentação aconselho começar pelos clipes produzidos pelo Kondzilla, um "prata da casa" que tá mandando ver no audiovisual do estilo.