Siga
Os olhos dos sírios para o mundo

Os olhos dos sírios para o mundo

02/10/2012

Estar em foco na guerra é um risco que jornalistas assumem. Talvez nem tanto pela imposição de editores, mas a fascinação da cobertura in loco e a força profissional que a aventura pressupõe elevam a aura do homem-notícia. Esse gosto da guerra, que o José Hamilton Ribeiro encontrou no Vietnã, é o motor também da fotografia de Shawn Baldwin e Ayman Oghanna, jovens freelancers que mostram a Síria ao mundo de um jeito diferente.

Como o regime local não permite fácil acesso a jornalistas estrangeiros, a foto certa da dupla está ao encarar a desilusão da condição humana por dentro dos refugiados. São acampamentos no deserto repletos de pessoas e pouca infraestrutura, o que torna essa legião um feudo sem lei de pouca comida e sofrimento. São perdas que não voltam e inocência perdida. E a tirania dos homens que dita e faz.

O alerta, não só lá, é também contra jornalistas. Só em 2012, segundo reportagem da “Folha de S.Paulo” com dados da ONG Proteção de Jornalistas, o número de fotógrafos e cinegrafistas mortos em ação aumentou 40% em proporção ao ano anterior, o dobro da média que vinha desde 1992. O Vietnã tirou a vida de 135 jornalistas, mas a guerra teria sido maior e mais devastadora sem eles. Como Capa costumava bradar, eram os olhos do mundo. Shawn Baldwin e Ayman Oghanna são os olhos do sofrimento da Síria.

A saber: os conflitos entre as tropas armadas de Bashar Al-Assad e os insurgentes deixaram entre 30 e 35 mil mortos. Já são mais de um milhão de refugiados em outros países (800 mil em 2011, segundo dados da ONU, e mais de 700 mil desde janeiro desse ano) em número que aumenta cerca de duas mil pessoas ao dia. Esses sírios aguardam registro em países como Jordânia, Iraque, Líbano e Turquia. A crise humanitária no Oriente é foco de pressões diplomáticas de todos os lados, mas o regime do premiê sírio ainda é repressor. Estimativas das Nações Unidas apontam ainda um crescimento exponencial da violência caso as rodadas de paz não sejam aceitas.

"Estar tão perto da morte e sentir-se assim tão vivo é viciante. Quem disser o contrário estará mentindo". A frase é de Tim Hetherington, fotógrafo inglês da Primavera Árabe.

Jovem sírio no deserto. Foto: Ayman Oghanna.

Criança brinca em Reyhanli, na Turquia. Foto: Shawn Baldwin.

Refugiados sírios. Foto: Shawn Baldwin.

Crianças em Ceylanpinar, na Turquia. Foto: Ayman Oghanna.