Siga
O suposto prodígio salvador está em cheque

O suposto prodígio salvador está em cheque

05/03/2013

O nome dele é Jake Bugg. Tem 19 anos de idade e nasceu Nottingham, na Inglaterra. Surgiu aos olhos do grande público de forma absolutamente repentina: seu primeiro álbum, homônimo, estreou em outubro direto no primeiro lugar do Top 40 álbuns mais vendidos no Reino Unido.

Seu som? Uma mistura honesta e certeira de folk e rock, liderada principalmente pelo hit “Lightning Bolt” e pela agitada “Trouble Town”. Jake Bugg canta como Alex Turner (dos Arctic Monkeys), é bocudo como Noel Gallagher, tem pose desleixada à la Bob Dylan e é cara-de-pau (ou prepotente?) o suficiente para declarar, em uma de suas músicas, do alto de sua pouca idade: “Bebo para lembrar, fumo para esquecer”. Bugg aparece em várias de suas fotos de divulgação com cara amarrada e um cigarro aceso na boca.

http://www.youtube.com/watch?v=fY0oPg1h8fQ

Em tempos em que a música pop é dominada por garotos supostamente irretocáveis como Justin Bieber (19 anos) e a boy band One Direction (idades variando entre 19 e 21 anos), Jake Bugg surgia no final de 2012 como uma alternativa saudabilíssima à enxurrada do fenômeno musical teen pasteurizado. “Meu trabalho é manter aquelas porcarias do X Factor longe das paradas”, disse ele em uma entrevista, fazendo referência aos artistas que são revelados no famoso reality show inglês de novos talentos musicais.

Pronto. Pose anti-pop corajosa e músicas honestas, de boa qualidade e escritas por ele mesmo – não por compositores contratados – foram o suficiente para arrebanhar uma leva de fãs e torcedores entusiasmados (este escriba entre eles) com o que parecia ser o surgimento de, finalmente, um garoto realmente talentoso na indústria musical.

http://www.youtube.com/watch?v=WTM9rV8uKpI

O entusiasmo da torcida aumentou ainda mais depois que Bugg resolveu atirar gratuitamente na direção do One Direction, como seu provável ídolo Noel Gallagher faria em tempos áureos: “Eles estão lá para ser bonitos. Provavelmente o mais feio dos cinco integrantes é o melhor cantor. Talvez ele saiba fazer alguns acordes.”

Boa, garoto!

No entanto um artigo publicado no último domingo (3) no influente e respeitado jornal The Guardian colocou Bugg em cheque. No texto intitulado “Então Jake Bugg é autêntico e Harry Styles é falso? Eu acho que não...”, o crítico Paul Morley desfila uma série de razões pelas quais Styles, o principal nome do One Direction, é mais “verdadeiro” do que Bugg. Morley inverte o raciocínio e nos faz chegar a conclusão, por A + B, de que Styles está apenas fazendo seu trabalho, enquanto Bugg é que cai muito bem no papel de revoltoso forçado e estrategicamente planejado.

Como um soco no estômago, percebemos que Morley estava coberto de razão. Olhando assim, de perspectiva, podemos até relacionar (com algum exagero, é verdade) Jake Bugg a Avril Lavigne, roqueira que no começo da década passada surgia como resposta calculadamente rebelde e fabricada a Britney Spears, que dominava as paradas ao redor de todo mundo.


Avril Lavigne, roqueira fabricada

E agora, Bugg? Se for isso tudo mesmo, por quem iremos torcer?