Siga
O renascimento musical dos robôs

O renascimento musical dos robôs

15/05/2013

O primeiro semestre musical de 2013 pertence ao retorno de dois robôs que viraram febre nas pistas de dança com uma discografia completa de hits certeiros. Máquinas francesas que também fazem filmes e usam um robusto aparato visual nos shows, além de circular muito bem em diferentes esferas da música pop. Porém, como possíveis crises existenciais atingem até as máquinas, nossos dois protagonistas não viram mais sentido no que estava sendo feito, tocado e produzido. Largaram mão de tudo e voltaram para a origem de sua música com um acesso aleatório de memórias significativas. Esse é o ponto de partida para sentar e ouvir Random Access Memories, o tão esperado novo disco do Daft Punk. Um álbum conceitual que lembra grandes peças clássicas de ópera rock... direcionado aos ansiosos ouvidos de 2013.

Vale reforçar o que é óbvio: o elemento visual é tão importante quanto a música no trabalho da dupla francesa. Se você ignorar isso e ficar preocupado com as mixagens, bases, batidas, kbps, bpm, vinil, MP3, FLAC e mais um monte de coisa estranha que não faz muita diferença para nós, “não iniciados”, (além de ser papo de gente chata), corre o risco de achar uma merda o álbum e não vai aproveitar a bela viagem sonora de grandes momentos da música nos últimos 40 anos. Simples e na veia.

Lá estão treze faixas que ilustram a epopeia musical dos robôs, saindo da crise para atingir a liberdade. O enredo é tocado por personagens especiais que emprestam seus conhecimentos (Giorgio Moroder), estranhezas (Panda Bear), depressão (desculpa ai, Julian Casablancas), malícia (Pharrell Williams) e iluminação (Niles Rodgers) para uma jornada que começa na real entrega de suas vidas robóticas para a música e encerra nas alturas, em um único momento alto e rápido de contato. De volta ao universo.

Todas as possibilidades de compreensão do álbum foram espalhadas durante o período de divulgação. Com o anúncio dos convidados e algumas entrevistas da dupla – que também atende por Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo – ficou ainda mais óbvio que eles não estavam brincando no papo de revisão da obra.

Aproveitaram a brecha aberta por ai (futuro retrô, sintetizadores, discoteca, ternos, games vintages, o filme Drive, o duo Justice, a morte de Donna Summer...) para largar mão da tecnologia e criar um som orgânico. Qualquer um pode produzir em casa hoje, mas não deve segurar a onda com o Giorgio Moroder ou Niles Rodgers no estúdio.

Essa foi a bola levantada por Bangalter em uma entrevista publicada hoje no site Pitchfork, “quando qualquer um tem a habilidade de fazer mágica, é como se não existisse mais mágica” e a prova disso veio na viralização de 30 segundos de Get Lucky e a série de versões fakes lançadas dias antes, em diversas partes do globo. Qualquer um pode.

Enquanto isso, robôs nos lembrarm como é que se escuta música de verdade.

http://www.youtube.com/watch?v=5NV6Rdv1a3I