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O polêmico dia em que o estagiário se auto-entrevistou

O polêmico dia em que o estagiário se auto-entrevistou

26/01/2012
Comecei a trabalhar nessa empresa há poucas semanas, e já nos primeiros dias me falaram que existe um blog da firma no qual as pessoas escrevem sobre o que quiser. "Pode escrever sobre qualquer coisa?", perguntei, só para confirmar. "Qualquer coisa", confirmaram, afinal. E assim, como temia, acabei me obrigando a colocar em prática a primeira (e única) (e errada) ideia que tive para este post.
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Com alguma frequência faço entrevistas, sejam para a faculdade ou para projetos pessoais. E de vez em quando fico pensando como seria se alguém me entrevistasse. O resultado seria desastroso, provavelmente. Mas a curiosidade permanece sempre. "Afinal, por que não me auto-entrevistar?", pensei. "Ridículo", respondeu minha consciência. "Que nada, vai ser legal para eu me apresentar", confirmou meu espírito que sempre me faz tentar ser engraçadinho. "Isso não vai acabar bem", avisou a consciência, batendo os pés e com o olhar enviesado.
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Então, ignorando toda a pretensão (e loucura) que a ideia possa carregar, entrevisto-me abaixo. E tudo isso é descaradamente inspirado em uma crônica de Luis Fernando Verissimo entitulada, ora, "Auto-entrevista".
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- Como encarastes o governo Lula?
Nasci em Joinville há duas décadas, mais ou menos, na maternidade Dona Helena. Nasci de minha mãe, mas meu pai também teve sua parte na história. Vim para Curitiba ainda cedo e na primeira série tive de encarar uma escola que só em uma turma tinha quase o mesmo número de alunos que havia em todo o meu jardim de infância na cidade natal. Superei tudo isso com muito choro e colo da professora que eu achava bonitinha.
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- Gostas do Roberto Carlos?
Curto muito ler, mas nem sempre é possível. Uma vez, na sétima série, acho, um amigo indiscreto perguntou a um professor quanto ele ganhava. "Mais do que eu esperaria, mas menos do que eu acho que mereço", respondeu o mestre, cheio de ironia e um não-sei-mais-o-quê, e ninguém entendeu nada. Minha leitura é mais ou menos isso, ou não: leio o quanto consigo, mas ainda assim menos do que desejo. Ler no ônibus é uma aventura, e acho que esse é o esporte de maior risco que pratico, já que há sempre a chance de uma retina descolada aqui ou ali. Roberto Carlos jogador ou cantor?
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- Tens mais predileção por dirigir ou vais guiando a bicicleta?
Uso a internet mais para fins educativos. Às vezes preciso entrar no Google para saber como se soletram esses sobrenomes, sabe, para não escrever errado nas minhas teses. Nietzsche, Rachmaninoff, Schweinsteiger, Dumbledore. Fora isso, quase nada. Facebook? Nem entro muito, umas seis horas por dia já são o suficiente. mIRC? Cansei de usar, sou do tempo em que a gente tinha que digitar comando no DOS para poder jogar Paciência e matar o tempo na repartição.
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- Preferes o Real Madrid ou o Barcelona?
Tenho um zumbido... espera. É zunido ou zumbido? Zumbido deve ter a ver com zumbis, né? Tá, tenho um zunido no ouvido desde que me lembro por gente. Fica lá o tempo todo. Piii. É até bom. É tipo uma segunda voz da consciência. Quando estou indeciso e consulto a consciência e ela não diz nada, surge o zumbido. Zunido. Piii.
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- Que pensas da manifestação da cultura ocidental?
Ainda não fiz um plano para minha carreira, mas não penso em ir muito longe. Me contento com pouco, com as pequenas alegrias do cotidiano. Um Prêmio Nobel de economia ou um Portugal Telecom de literatura já estão de bom tamanho. Um Capricho Awards também não seria nada mal.
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