Siga
O melhor escritório do mundo

O melhor escritório do mundo

24/06/2013

Sou apaixonado por aviação desde criança. Uma das mais antigas lembranças que tenho é de quando sentei-me ao cockpit de um caça da Força Aérea Brasileira em uma das edições da Revoada das Velhas Águias, no aeroporto do Bacacheri, em Curitiba, em uma fria e encoberta tarde nos anos 80. Durante a infância, inúmeras visitas ao Afonso Pena, às vezes somente para ver aviões decolarem e pousarem; outras muitas para levar e buscar parentes, mas nunca para cruzar os limites do portão de embarque.

Aos 13, passei a pilotar em simuladores de voo – confesso, com uma estranha compulsão por realismo, o que gerava jornadas de até quatro horas apenas para se chocar contra o solo na hora do pouso. Aos 16, comprava revistas sobre aviação e sonhava em cursar Ciências Aeronáuticas. Mas somente aos 22 deixei o solo pela primeira vez, a bordo de um Boeing 737 rumo a Porto Alegre em uma viagem de trabalho.

Lembro com clareza do momento único em que, depois de poucos minutos de voo através do céu encoberto e com precipitação leve na capital paranaense, a aeronave rompeu os limites das nuvens, revelando todo um mundo novo em um esplendor azul, que só apenas poucos privilegiados têm a chance de habitar e está lá todos os dias, mesmo quando nos frustramos no microclima gerado entre a Serra do Mar e o Segundo Planalto Paranaense.

Diante da cena, tive um primeiro pensamento que revisito em todas as viagens. "Caramba, olha o escritório que esses caras têm", pensei, invejando os pilotos de voos comerciais. Por motivos óbvios, não sou o único que pensa dessa forma. E há poucos dias simpatizei com o trabalho de um piloto comercial que resolveu usar técnicas de fotografia digital para registrar os deslumbrantes cenários que testemunha de sua "mesa de trabalho" todos os dias.

Karim Nafatni/KNXposures

Karim Nafatni, dos Emirados Árabes Unidos, ficou fascinado com o que viu quando começou a voar profissionalmente, em 2007, e decidiu levar uma Nikon D300s consigo a bordo dos Airbus A320 que copilota, na maioria das vezes em linhas regionais no Oriente Médio.

O resultado impressiona. Não apenas pela paisagem ou pela constelação de luzes no painel de instrumentos da aeronave, mas pelo produto fotográfico que é. Nafatni, especialista em registro de skylines noturnos, domina a técnica HDR, que proporciona uma imagem com tonalidades distintas e muito atraente.

A técnica consiste em tirar três fotos quase idênticas de uma mesma cena. No entanto, uma com a fotometria correta, outra levemente subexposta, e a terceira ligeiramente superexposta. Depois, com o auxílio de um software, os cliques são sobrepostos, criando uma única fotografia, mas com um espectro de cores três vezes mais amplo do que uma foto comum.

Karim Nafatni/KNXposures

Nafatni foi recentemente promovido de copiloto a comandante, e provavelmente terá menos tempo para se aventurar com as lentes. No entanto, já conseguiu construir um portfólio de tirar o fôlego e de despertar a inveja daqueles que, quando voam, ficam  – com sorte – limitados a uma pequena janela que, não sei por que cargas d'água, só permite que olhemos com conforto para o solo.

O piloto também se dedica a tirar fotos "aéreas" do topo de arranha-céus, estruturas cada vez mais comuns em Dubai, cidade que habita. Vale a pena conferir seu site e sua página no Facebook. É um escritório que jamais terei igual, mas quem sabe como uma "sala de jogos", num futuro e com a pequena ajuda da loteria?

Karim Nafatni/KNXposures

Autorretrato do piloto e fotógrafo Karim Nafatni