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O dia em que não "baixei" na Gisele

O dia em que não "baixei" na Gisele

17/02/2012

Há cerca de duas semanas, estive novamente encarregado da cobertura jornalística do Super Bowl, jogo que decide o campeão da liga profissional de futebol americano, a NFL. Realizada desta vez em Indianápolis, a grande final consistia em um confronto entre o New York Giants e o New England Patriots. Giants, um time tradicional da NFL, de glorioso passado. Patriots, também com sua história de triunfos, mas mais conhecido em terras tupiniquins por ser a equipe comandada pelo invejado quarterback Tom Brady, marido de nossa maior supermodel, a gaúcha Gisele Bündchen.

Tão logo foram decididos os times da final, pensei: Gisele certamente estará no estádio no dia do jogo. Aí está uma boa oportunidade para um furo de reportagem. Como o futebol americano ainda é um esporte pouco popular por aqui, dá para contar nos dedos de uma mão os jornalistas brasileiros presentes evento. Portanto, em um improvável encontro com Gisele, eu teria exclusividade na história. Mas com toda a magnitude do Super Bowl, isso seria apenas um bônus, lá no fim na lista de prioridades para a cobertura.

A gaúcha já havia ganhado destaque na imprensa americana durante a semana anterior ao jogo. Caiu na rede um e-mail que Gisele enviou a amigos e familiares, pedindo que rezassem e torcessem por Brady, pois ele estava prestes a enfrentar um grande desafio no domingo. Talvez um pedido de uma esposa dedicada e apaixonada, mas motivo para chacota entre os jornalistas gringos.

Parece que o pensamento positivo não foi suficiente, e o time de Brady perdeu por 21 a 17 para os Giants. Um jogo incrível para os apaixonados pelo esporte como eu, um dos melhores dos últimos tempos. E ainda extasiado com o que havia acabado de ver em campo, juntei minhas tralhas e desci as escadas de emergência do Lucas Oil Stadium, rumo à área de entrevistas do pós-jogo, localizada ao lado dos vestiários, nas entranhas do estádio.

Por lá fiquei uns 40 minutos, acompanhando obviamente as coletivas do time vencedor. Quando diminuiu o ritmo de presença dos atletas, lembrei que havia também as sessões de entrevista com a equipe perderora. E lá fui, sem pretensões, para ouvir o discurso de derrota dos favoritos, e com sorte ainda pegar a coletiva com Brady. Na entrada do local, aquela pesada atmosfera de um time que, pela segunda vez consecutiva, havia deixado escapar o campeonato diante do mesmo Giants. E todos os jornalistas se aglomeravam em torno de um palco no fundo do salão, em que estava, já engravatado, o quarterback Tom Brady.

É comum que os familiares participem desse momento, aliás as famílias dos jogadores de Nova York estavam por lá, orgulhosos. Neste momento caiu a ficha, abandonei a concorrida coletiva e comecei a procurar por Gisele Bündchen. Não demorou. Aliás, eu havia passado por ela na entrada, sem perceber.

Primeira vez que via Gisele pessoalmente. Eu imaginava que, quando isso acontecesse, ela seria aquela pessoa que emana luz no ambiente e anda com certa superioridade, acima do bem e do mal, como se estivesse em uma passarela. Pelo contrário: apesar de uma intensa beleza natural, a supermodel tentava de todos os modos repelir atenção. Com os longos fios loiros posicionados sobre o rosto, apenas pouco mais que o nariz ficava à mostra. Ela estava acompanhada de mais duas pessoas e conversava com um senhor asiático em um canto, voltada para a parede, na tentativa mais óbvia de se esconder.

O engraçado é que ninguém dava a mínima naquele momento. Não havia nenhuma câmera apontada para ela, nenhum jornalista por perto esperando por um momento para entrevistá-la, exceto eu. Ali ela não era a mulher prestes a se tornar primeira modelo bilionária da história, era simplesmente a esposa de Tom Brady. Gisele estava com cara de poucos amigos, e somente mais tarde fiquei sabendo que momentos antes – a caminho do local de entrevistas – ela havia dado declarações de cabeça quente a alguns fãs, palavras que teriam imensa repercussão negativa no dia seguinte.

De qualquer forma, fiquei por ali, câmera em uma mão, bloco de anotações em outra, e a cabeça tentando driblar um inesperado frio na barriga para formular uma pergunta sequer. A grande chance. Já podia visualizar a manchete: "Em entrevista exclusiva, Gisele Bündchen diz por que os brasileiros deviam prestar mais atenção na NFL". Não que fosse ganhar um Pulitzer por isso, mas não deixa de ser uma boa oportunidade.

Por um par de minutos fiquei por perto, esperando por uma brecha para me apresentar e pedir para conversar. Talvez ela ficasse mais à vontade para falar com um compatriota, mas as chances eram que a reação fosse exatamente a contrária. De repente, Gisele para de falar com seu interlocutor, era a minha deixa. Quando dou o primeiro passo em direção à modelo, percebo o motivo pelo qual ela havia interrompido o papo. O marido tentava abrir espaço em meio a uma multidão de fotógrafos para deixar o salão. Do meio do caminho, Brady localizou Gisele em seu primeiro contato com a esposa depois do jogo. Ele acenou, ergueu as sobrancelhas e esticou os lábios, na clássica feição que diz "é…não deu".

Tom chegou ao local onde estávamos e Gisele, tentando de todas as formas engolir um choro que não pegaria bem, deu-lhe um longo abraço. Milhares de flashs e cliques por segundo enquanto a imprensa registrava o momento, inclusive os meus. Aparentemente, a gaúcha não conseguiu conter as lágrimas. Com o cabelo ainda mais sobre o rosto, ela esticava a mão na tentativa de cobrir as lentes, no maior estilo celebridade correndo para dentro de uma limousine depois de uma noite de festança, sem lembrar que aquela era uma área construída especificamente para a imprensa fazer seu trabalho.

O casal saiu, ainda cercado por meus colegas, e eu fiquei no salão. Com aquela amarga sensação de quando você está em uma festinha da 7.ª série, apenas esperando o momento certo para puxar assunto com a menina dos sonhos, e do nada aparece um namorado descolado, do segundo grau, que já fuma e pega o carro do pai escondido. Não exatamente com essa conotação sentimental, mas foi mas ou menos assim o dia em que perdi a chance de "baixar" na maior top model do planeta.