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Hollywood em crise

Hollywood em crise

20/11/2012

Hollywood está sem ideias. Perceba que nunca se viu tantos projetos em andamento que são basicamente: 1) remakes; 2) sequências; 3) adaptações de bens de consumo – HQs, brinquedos e até parques temáticos. Este último item é provavelmente o aspecto mais nefasto da indústria cinematográfica na atualidade, e rende abacaxis como Transformers ou Batlleship – que tomou por base o popular jogo Batalha Naval, acrescido de adereços como aliens medonhos e a cantora Rihanna.

No documentário Everything Is Remix, o diretor Kirby Ferguson mostra que a maior parte dos blockbusters hollywoodianos nos últimos dez anos se vale de uma fonte pré-existente. Para piorar, essas ideias estão chegando ao limite e até gente gabaritada como Ridley Scott embarcou na onda – o diretor de Blade Runner está envolvido em uma adaptação do jogo de tabuleiro Banco Imobiliário para as telas.

 

http://vimeo.com/19447662

 

Agora planeja-se uma sequência de Casablanca, um dos clássicos absolutos do cinema. A premissa é que o filho de Rick Blaine (Humphey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman) vai ao Marrocos em busca do pai. Defina crise criativa.

Porém, é difícil que o filme saia do papel. Esse tipo de coisa não pega bem com os puristas, e os executivos sabem disso. Há alguns anos, por exemplo, circulava um roteiro que reimaginava Capitão Blood, o fime de capa-e-espada de 1935 estrelado por Errol Flynn, no espaço (!). Acabou arquivado.

Mas outras atrocidades infelizmente conseguem achar seu lugar ao sol. Gus Van Sant – um dos poucos caras na indústria a quem pode se chamar de “autor” – sujou as mãos em 1998 ao refilmar Psicose, de Alfred Hitchcock. Pouco importa que ele tenha seguido o original frame a frame: com certos cânones simplesmente não se mexe. Nem mesmo quando dá certo o resultado é unânime. É bom lembrar do King Kong de Peter Jackson, que apesar de ter lá seus admiradores já foi esquecido pela maior parte do público, enquanto o filme de 1933 continua reinando como o “que vale”.

Entre Piratas do Caribe (que vai para o seu quinto filme), Eras do Gelo (que aparentemente nunca acabam) e habitantes da Terra Média (O Hobbit, cuja pré-produção previa um filme, já foi transformado em três), o cenário não é animador. O maior agito recente na comunidade cinematográfica, por exemplo, é mais uma trilogia da saga Star Wars.

Em tempo: Casablanca não precisa de uma sequência. Ela já foi feita e se chama Sonhos de um Sedutor, em que Woody Allen recebe conselhos amorosos do fantasma de Bogart, revivendo várias passagens da película original. Não à toa foi feito na década de 70, o último grande período antes da crise criativa que está aí até hoje.

 

http://www.youtube.com/watch?v=Dl_DBzrNFzc