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"El libro que no puede esperar"

"El libro que no puede esperar"

22/10/2012

Quem gosta de comprar livros sabe o que é adquirir um novo exemplar e deixá-lo na prateleira durante um bom tempo até conseguir uma folguinha para ler. Eu mesma sou um exemplo disso. Visito uma livraria, saio cheia de sacolas, tento ler alguns ao mesmo tempo e até hoje tenho outros que não li encostados no quarto. Uma solução para esse gasto de dinheiro empilhado na escrivaninha seria recorrer às bibliotecas, mas… apesar de gostar muito delas, não tenho o hábito de emprestar livros. Por quê? Porque tem vezes que uma semana é pouco tempo e a sensação de devolver um livro não lido é frustrante, é uma derrota para quem se diz leitor.

Sabendo disso, uma pequena editora e livraria de Buenos Aires, a Eterna Cadencia, criou um livro que força qualquer pessoa a terminar de ler sua história em tempo determinado. Com uma tinta que dura apenas dois meses, o livro é impresso e lacrado com seu prazo de validade colado na capa. "El libro que no puede esperar" foi lançado com otimismo pelos criadores, que resolveram acabar com a moleza de adiar uma boa leitura.

Para completar, foi planejada uma coleção com diversos volumes escritos por autores contemporâneos, que sofrem com a dificuldade de atrair leitores. Uma pesquisa, comentada pelos editores do livro, chegou a apontar que a venda de novos autores latino-americanos caiu 37% nas últimas duas décadas. Por isso, o plano acabou dando certo: o primeiro volume, intitulado "El futuro no es nuestro: nueva narrativa latinoamericana", se esgotou já no dia do lançamento.

http://vimeo.com/43618619#

A iniciativa ganhou a categoria "lançamento ou relançamento” do Festival de Cannes, na edição voltada à publicidade, e obviamente foi criticada mundo afora pela jogada de marketing e cunho comercial da Eterna Cadencia. Dizem as más línguas que a banalização literária teria sido tanta, que a editora teria contratado uma agência de propaganda para criar um buzz que atraísse novas pessoas às suas lojas. Um pouco frustrante, não é?!

Mesmo assim, não acho que a história de pescad… vendedor estrague o brilho da iniciativa apenas pela análise comercial que podemos fazer dela. Afinal de contas, o produto não deixa de atingir suas duas propostas ideológicas: forçar as pessoas a ler (e lembrarem o quanto é prazeroso terminar uma obra) e chamar a atenção para os novos escritores que estão surgindo por aí e que tanto penam neste mundo em que é cada vez mais difícil deixar o computador de lado e abraçar um livro de capa dura.