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Cinco propostas para modernizar o futebol

Cinco propostas para modernizar o futebol

30/07/2012

Sem dúvida, o futebol é o esporte mais popular do mundo. E para usar um clichê do meio, em time que está ganhando não se mexe. No entanto, como um ex-apaixonado pela modalidade, tenho a impressão que consigo, amparado pela distância, enxergar alguns aspectos que poderiam transformar as peladas profissionais e, talvez, trazer ainda mais público para os estádios. Antes disso, um aviso: se você é um dos conservadores do esporte bretão, defensor das intocáveis tradições, melhor parar por aqui caso não queira se deparar com "absurdos" e "coisas sem sentido".

Mas como assim "um ex-apaixonado pela modalidade"? Como a maioria absoluta dos meninos brasileiros, cresci respirando futebol, mesmo sem talento nenhum para a prática do jogo. Mas tive (e ainda tenho) um time do coração, frequentei estádios, fui sócio-torcedor, chorei de alegria e tristeza com os acontecimentos dentro das quatro linhas. Mas de um tempo para cá comecei a mais me irritar ao ver os jogos do que sentir prazer. Por causa de algumas regras antiquadas e principalmente os olhos fechados para o avanço tecnológico, fiquei com a sensação que se trata de uma cultura esportiva que valoriza a malandragem (no sentido negativo) e o acaso, e é condescendente com o erro irreversível. Depois de largar as pelejas e me inteirar de outros esportes, principalmente os americanos, percebi que o futebol mundial perde oportunidades claras e fáceis de transformar o jogo em um produto de entretenimento ainda mais forte, dinâmico e, consequentemente, ainda mais mais lucrativo.

Portanto, vamos às cinco ideias de jerico que fariam a mim, este que vos expõe suas malucas teorias, voltar a frequentar os gigantes de concreto armado espalhados pelo Brasil.

Fim do empate
É algo tão arraigado que nem percebemos o absurdo. Mas se pararmos para pensar um pouco, quando dois clubes se enfrentam, o objetivo é ver qual dos dois é melhor. E nem o mais equilibrado dos empates seria embasamento suficiente para dizer que os dois times são exatamente iguais em suas qualidades técnicas e, portanto, merecem uma gratificação de consolação por isso. Eu gostaria de ir ao estádio ou ligar a tevê sabendo que um dos dois times vai vencer, e não se contentará com um acordo de cavalheiros e a divisão dos méritos. A proposta seria, com um placar igual ao fim do tempo regulamentar, nada de prorrogação: cobranças de pênaltis diretos. Se o primeiro time conseguir converter a cobrança, o segundo necessariamente precisa marcar para não perder a partida, e vice-versa. Não tomaria mais do que dez minutos na grade de programação das emissoras, e no final, ou seu time é melhor que o outro, ou não é.

Tempo regulamentar
Muitos amigos que tentam acompanhar beisebol ou futebol americano logo desistem, pois o esporte é "muito parado". Compreendo perfeitamente, principalmente quando assisto futebol e vejo atletas fazendo "cera" para comer o relógio. Mesmo com os polêmicos acréscimos, o tempo de bola parada nunca é recuperado com os poucos minutos dados pela arbitragem no final. Eu gostaria de ver um jogo de futebol com dois tempos de 30 minutos, mas cronometrado. A bola saiu de campo, relógio parou. Aí teríamos meia hora efetiva de pelota rolando. E quando o tempo estourasse, o árbitro apitaria onde quer que a bola estivesse. Regra é regra, e o combinado não sai caro. Portanto, não teria essa de "chorinho" por um último ataque: acabou, acabou.

Uso do replay e "desafios"
Se tomarmos como base o Campeonato Brasileiro, não posso afirmar com certeza, mas grandes chances de que quase todos os jogos são cobertos por uma equipe de tevê. Ou que todos os times conseguiriam encaixar em seus orçamentos um grupo de profissionais da área para registrar a partida com, que seja, quatro câmeras. Isso possibilitaria o uso do replay, que ganha imenso espaço nos esportes dos EUA e também em modalidades olímpicas como judô e tênis, entre outras. Seria um recurso para auxiliar a arbitragem quando houvesse dúvida em uma decisão no campo, e que não pudesse ser garantida por nenhum dos oficiais. O árbitro iria até a lateral de campo, onde poderia analisar as imagens do lance em um curto tempo determinado (algo como 1 minuto), e assim decidir se o recurso eletrônico oferece evidências suficientes para voltar atrás. Ou se isso exigir muita logística, poderia ser designado um quinto árbitro, acomodado nas cabines de rádio e tevê, responsável apenas pela revisão de determinada jogada quando requisitada pelo juiz em campo.

O replay poderia adicionar ainda uma nova dimensão, o "desafio" do técnico. Na NFL, liga profissional de futebol americano, o treinador pode "desafiar" uma jogada que acredita ser sido marcada de forma errônea pelos juízes. O jogo é parado e o árbitro principal assiste ao lance na tevê, de diversos ângulos, e pode mudar de ideia caso encontre provas para isso. Cada treinador tem direito a dois desafios por tempo de jogo. Caso tenha razão nas duas ocasiões, ganha uma terceira chamada. Mas se a decisão do juizão não mudar, o time é punido com a perda de um pedido de tempo.

No futebol poderíamos agraciar cada técnico com, por exemplo, um desafio por jogo. Gol mal anulado, bola que passou ou não a linha de gol ou lateral e escaneito invertidos, o "professor" pediria a revisão do lance. Caso tenha razão, ótimo, o juiz voltaria atrás. Se não, o técnico perderia o direito a uma substituição. E, por isso, não poderia fazer seu "desafio" caso já tivesse queimado as três trocas. Vai dizer que não adicionaria estratégia para a partida?

Importante: o uso do replay não é a garantia de um duelo justo. E sim, apenas uma chance de que a justiça seja feita. Quando falo disso, muitos me dizem que o erro humano é o charme do futebol. Concordo, claro, mas não o erro do árbitro, que está ali justamente para garantir que a partida seja executada de acordo com as erras, mas sim o erro humano do atleta, que não conseguiu cortar uma bola ou errou um gol feito. Erro humano é diferente de injustiça. Pergunte para as seleções que já perderam vagas em Copas do Mundo por bobagem dos juízes.

Atendimento médico
Outra coisa que me desagrada é o jogador que leva uma entrada mais dura e praticamente agoniza no gramado, à beira de uma aparente morte. Jogo parado e o atleta é carregado por uma maca mágica e levado para a milagrosa linha lateral, território que tem o poder de, instantaneamente, curar a mais complicada lesão. Pois é muito comum que o boleiro levado pela maca esteja novamente pronto para ação apenas segundos depois de sair de campo. Tenho a seguinte opinião: se o cara não tinha condições de usar suas próprias pernas nem para sair de campo e precisou ser carregado para fora, é sinal de que ele não tem a mínima chance de correr em máxima velocidade e chutar uma bola. Assim, a proposta é que o jogador que saiu carregado de campo estaria automaticamente fora da partida. Isso diminuiria a quantidade de fingimento para esfriar o jogo.

Uso do goleiro na área adversária
E a mais absurda de todas consiste em liberar que os goleiros possam usar as mãos dentro das áreas adversárias. Em uma jogada extremamente importante, com o tempo regulamentar quase estourando, o arqueiro correria até a área adversária para tentar agarrar a bola antes de seu companheiro de posição oponente. Se conseguisse, seria como no basquete quando o atleta já fez sua movimentação: o goleiro não poderia se deslocar mais do que um único passo, mas poderia arremessar a bola para um companheiro. Se a redonda fosse jogada direto para o gol, nada feito, inválido. O score ainda não poderia ser feito com as mãos. Por outro lado, se a estratégia falhar, a meta estaria livre do outro lado do campo para o adversário.