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A bíblia do palavrão

A bíblia do palavrão

02/01/2012

Todo mundo diz palavrão. Homens, mulheres, velhos, crianças, ricos e pobres. Toda sorte de palavrões para todos os gostos. Esse na foto acima é Mário Souto Maior — filho do meu tio-avô Manuel e, portanto, primo legítimo do meu pai — autor do mais importante estudo sobre palavrões feito até hoje no Brasil, o “Dicionário do Palavrão e termos afins”.

Lançado em 1980 pela Editora Guararapes e relançado pela Editora Leitura ano passado, a obra tem Jorge Amado na orelha e prefácio de Gilberto Freyre. A ideia original do autor era fazer um estudo intitulado “Vocabulário Popular do Sexo”. A triagem do material começou em 1968, até que no meio do caminho Freyre sugeriu que se transformasse num dicionário. Dito e feito.


Mário vasculhou 200 dos mais importantes romances do país e guardou por anos recortes de revistas e jornais. Tornou-se um verdadeiro caçador de impropérios e distribuiu 4 mil fichas de pesquisa, respondidas por pessoas de todas as regiões do Brasil e de Portugal, de todas as idades, gêneros e classes sociais. O resultado disso tudo é o tal dicionário, com 3 mil palavrões.

De “Abajur de buceta” (mini-saia) a “Zunga” (meretriz), tem muita coisa boa no estudo. São inúmeros e impensáveis modos de denominar comportamentos e, principalmente, os órgãos sexuais. Coisas curiosas, do naipe desse abc:

- Abrir o balaio: copular no sábado de aleluia, após o jejum carnal do dia anterior, sexta-feira santa.
- Boca sem dente: órgão sexual feminino.
- Caga pra dentro: pederasta.

Essa coleção de palavreado de baixo calão não é coisa de brasileiro. Antes desse, sejamos justos, já se tinha notícia de um dicionário alemão e um francês, com 9 mil palavrões cada. Na Inglaterra, publicou-se um “Dicionário de insultos em cinco línguas”. O nosso tem menos verbetes, mas duvido que sejam menos originais.

Em tempo. Não pense que eu seja um grande entusiasta dos palavrões sem limites. Tudo tem sua hora. Gilberto Freyre dizia que “no momento exato, sim, o palavrão é necessário. É insubstituível. Em termos por assim dizer fisiológicos ele é, num momento desses, equivalente do arroto ou do peido alto. Mas como o arroto ou o peido, aliviando um indivíduo ofende o olfato e os ouvidos dos circunstantes que não sintam, no momento, igual necessidade de alívio ou de desabafo. Daí a necessidade de ser reduzido o seu uso ao inevitável. Isto na vida real. Isto, por analogia, no teatro e na literatura. Quando insubstituível ou inevitável, que venha o palavrão”. Inútil qualquer substituto para filho da puta ou merda.