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Cinema, política e ataque zumbi em Cuba

Cinema, política e ataque zumbi em Cuba

01/08/2013

De acordo com Hollywood, o fim do mundo ou uma invasão extraterrestre sempre começa pelos Estados Unidos e por lá tudo é resolvido. Apoiado no humor sarcástico, a coprodução Cuba-Espanha Juan dos Mortos apresenta uma outra versão para um evento fantástico ao narrar um ataque de mortos vivos em Havana.

Fanático por filmes de Sam Raimi e as demais produções do gênero, o diretor Alejandro Brugués sempre sonhou em fazer um zumbi movie sob a ótica cubana. A partir desta ideia ele coloca o povo que há 50 anos se prepara para um confronto com os EUA para lidar com uma invasão de zumbis. 

O protagonista nada politicamente correto é Juan, um malandro especialista em vadiar, que resolve tirar vantagem do ataque para ganhar uma grana com um negócio próprio para caçar zumbis sob o slogan "Juan de los muertos, matamos seus entes queridos". Sua equipe de caçadores é formada pelo amigo punheteiro Lazaro e seu filho chapado Califórnia, uma vizinha travesti e seu namorado brutamontes. Em contraponto aos antiheróis, há a bela filha de Juan, que também entra na matança.

Juan ao centro e sua equipe de caça zumbis

Mais do que uma nova e divertida referência para o gênero que voltou com tudo com Zumbilândia (2009) e o seriado The Walking Dead (2010), Juan dos Mortos é uma grande surpresa no cinema cubano e não a toa fez muito barulho em festivais mundo afora. Com bom ritmo, referências pop e muita ação, a comédia usa o que os cubanos têm de melhor, que é o bom humor e a superação, pra contar uma história surreal e fazer piadas sobre eles mesmos. Aliás, não poupam ninguém. Tiram sarro dos espanhóis, dos russos, dos americanos, do regime comunista e do próprio Fidel.

No Malecón, uma multidão vem dos lados da embaixada dos EUA, lançando a dúvida sobre a possibilidade de um ataque de dissidentes

Sempre admirei a ilha e toda sua resistência, mas imaginei Havana como uma cidade parada no tempo, com habitantes isolados do mundo por conta do bloqueio norte-americano e do controle estatal. Em recente visita a Cuba, constatei o quanto estava errado. Não há ninguém bobo por lá. Muito pelo contrário. Todo mundo está ligado no que acontece no resto do mundo, das lutas do Anderson "Araña" Silva no UFC, aos dribles de Neymar e o 3 a 0 contra Espanha, na final da Copa das Confederações. Lá assistem filmes americanos, brasileiros e de todo tipo. Além da música cubana, curtem Rihanna, Beatles, Michel Teló e o coreano Psy. Toda pessoa com quem conversei tinha um celular no bolso pra mostrar uma música ou um vídeo. Antes de assistir Juan dos Mortos, já tinha me surpreendido com a qualidade técnica dos clipes de rap, salsa e reggaeton locais, que chegam a superar a média das produções brasileiras.

Ao invés de usar o remo pra fugir rumo a Miami, Juan o transforma em arma pra aniquilar zumbis

Tudo isso é um reflexo das modificações que ocorrem em ritmo acelerado na ilha desde a abertura anunciada por Raul Castro. É legal ver um filme em tecnologia digital e com este conteúdo ácido ter o selo do super reconhecido, e até então sempre sério, Instituto Cubano Del Arte y La Indústria Cinematográficos (ICAIC). As produções independentes e digitais começam a ganhar cada vez mais volume. São paradigmas sendo quebrados e mostras que ares de liberdade e renovação sopram intensamente na ilha.

Confira o trailer:

http://www.youtube.com/watch?v=7HzZJNRieqs