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Brasil na capa dos jornais

Brasil na capa dos jornais

10/02/2014

Em 1976, Chico Buarque escreveu que aqui a coisa tá preta. Ironicamente, “aqui na Terra tão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock’n’roll”. A agenda de compromissos nacional reserva a 2014 uma Copa do Mundo de estádios atrasados e superfaturados e apenas 5 das 41 obras de mobilidade urbana em funcionamento a 120 dias da bola rolar. Também eleições presidenciais três meses após a Alemanha levantar o caneco. Enquanto isso, aqui a coisa tá preta.

Na última quarta-feira, paulistanos enfrentaram o caos do metrô da Linha Vermelha. Pessoas se aglomeraram, andaram sobre trilhos por quilômetros e ainda levaram “parte da culpa oficial do governo”. Detalhe. A confusão ocorreu justamente no trecho que leva cidadãos a Itaquera, palco do Brasil x Croácia da abertura do Mundial. Lógico que, nos dias de jogos, dias de turistas vagando livremente e seguramente, a situação tende a ser outra. Pessoas serão liberadas do trabalho e demais medidas paliativas devem colocar ordem no caos diário.

Também na semana passada acompanhamos a invasão e os desdobramentos quase inimagináveis do time do Corinthians no CT Joaquim Grava após a invasão de muitos marginais. Jogadores trancados em salas quentes com armários na frente das portas, armas brancas, funcionários agredidos, ídolos sob risco, depredação, furto, “banho de piscina” e até um maluco que bebeu uns chopes do bar.

Tudo pouco mais de um mês depois das cenas de Vasco x Atlético-PR em Joinville e pouco mais de um ano depois do Corinthians ser campeão do mundo sobre uma equipe europeia com gol de Guerrero. O peruano levantado pelo pescoço pelos agressores de 2014. Fora as diversas pequenas confusões veladas nos estádios de futebol dia sim dia também em um país que não prende e não pune. É assunto de segurança nacional. Tratado com desdém desde que o Brasil foi ao Uruguai disputar sua primeira Copa do Mundo.

E se não bastasse a selvageria diária brutal, a última semana foi alimentada por uma selvageria ideológica que corrobora a tese de que as situações mais brutais do país resolveram usar 2014 para continuar saindo do armário. Como escreveu José de Souza Martins, o menino de 15 anos preso a um cadeado de bicicleta no Rio de Janeiro “descende de homens livres há mais de um século, mas a chibata ficou lá dentro da alma”. A crueldade do “resolva por você mesmo” e de apoio à atitude nojenta e covarde de um grupo de homens brancos não tem defesa em nenhuma instância.

Ao menos parte da agenda da imprensa tem mudado nas últimas semanas. Na quinta-feira, a “Folha de S. Paulo” mostrou na capa o caos do metrô paulistano e as cenas de barbárie entre policiais militares e as organizadas ditatoriais do Corinthians. Nessa semana, ainda, duas capas do jornal “Extra” escancararam a situação sem parcimônia. Que ao menos esse olhar mais atento aos buracos ganhe mais o ano do que as pautas pequenas e de simples apoio partidário.